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Chocolate e a demência: o projeto

Olá,

Hoje venho partilhar convosco um novo projeto que nasce de uma relação, à partida, improvável: o chocolate e a demência. Há um ano que vejo o chocolate a ajudar a fazer a diferença na vida de pessoas com demência numa fase avançada, através do projeto criado no decorrer da intervenção psicosensorial de hOpeningDementia. Fui desafiada pela Ana, psicóloga que faz parte do projeto, a entrar no barco. A Pedaços de Cacau, mais do que uma marca de chocolates, é também uma marca de pessoas (por mais cliché que possa soar, é a verdade). Começo sempre por falar daquelas que trabalham diretamente comigo, e acabo a mencionar todos os parceiros com os quais tenho tido a oportunidade (e sorte!) de colaborar.

Tal como referi anteriormente, este projeto surgiu no decorrer da intervenção psicosensorial de hOpeningDementia com pessoas com demência em fase avançada. O desafio lançado era simples: criar um produto com chocolate para ser usado numa parte importante do seu trabalho.

Para quem não sabe, o trabalho com pessoas com demência em fase avançada consiste na apresentação de estímulos sensoriais para ativar e despertar reações e respostas emocionais positivas. Por essa razão, surgiu a ideia de usar o chocolate para estimular o olfato e o paladar.

 

O desafio com chocolate

Quando nos foi lançado o desafio, ficaram no ar os moldes em que viria a ser apresentado o chocolate. Estamos a falar de pessoas com demência em fase avançada. Grande parte delas estão acamadas ou não reagem a quaisquer estímulos internos ou externos. Por isso, tínhamos de pensar muito bem como seria apresentado o chocolate para que, com facilidade, – e, em certas situações, com ajuda – elas conseguissem lamber o chocolate.

A primeira decisão estava tomada, sabíamos que o chocolate usado seria negro, devido à relação positiva com as funções cerebrais neuroprotetora e neuromoduladora (Socci et.al., 2017). No entanto, não poderia ser muito amargo, daí termos escolhido um chocolate negro com mínimo de 60% de cacau. Ficou por resolver a questão da apresentação: seria um lollipop, uma tablete, ou outra coisa? Até que surgiu a ideia de usar uma colher e, após algumas tentativas com colheres de sopa e de café, acabámos por usar uma colher de sobremesa por ser a mais ergonómica.

Na versão final, ficaram as colheres de bambu devido ao seu tamanho e à temperatura normal do cabo – ao contrário das colheres comuns, não existe a sensação fria ao toque.  O produto final são umas colheres de bambu com chocolate na ponta, como se vê nas fotografias.

 

Chocolate: um estimulante natural

A experiência tem tido resultados cada vez mais surpreendentes. Apesar do estímulo conferido através das colheres de bambu com chocolate ser o mesmo, as reações têm sido todas diferentes. Hoje conto-vos uma que achei tão ternurenta e exemplificativa das potencialidades do chocolate: imaginem uma senhora cujas mãos se mantêm imóveis todo o dia e que de um momento para o outro, começa a agarrar com a mão a colher que tem o chocolate. Quando nos demos conta e, depois de lhe darmos a colher algumas vezes, essa mesma senhora começou a pegar na colher e a levá-la autonomamente à boca para saborear o chocolate. A expressão de felicidade no seu rosto é quase invisível aos olhos, mas são nos gestos e nos movimentos voluntários para comer o chocolate que vemos a determinação em fazer alguma coisa de que gosta.

Gostar de chocolate é muito mais do que comprá-lo, é também saber saboreá-lo e perceber todas as suas potencialidades. Apaixonei-me por ele por isso mesmo. Quando criei a Pedaços de Cacau foi sempre com o intuito de proporcionar momentos de pura felicidade.

Podem (re)ver o debate sobre este assunto no programa de hoje d’ A Praça, na RTP1. Se se estão a perguntar como é que podem testar o que acabámos de descrever, partilhamos que temos disponível, por pré-encomenda, um kit com o livro “Demência: Desdramatizada e Colorida”, 12 colheres de madeira com chocolate negro (mínimo 60% de cacau) e um mini manual para registar a experiência. Em breve vamos partilhar um pouco mais sobre este projeto extraordinário.

Obrigada a todos por partilharem comigo esta paixão pelo chocolate,

Raquel Lima