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Histórias por contar sobre o Calendário do Advento

Hoje trago-vos uma breve história. Algo que, possivelmente, tal como eu, desconheciam. A história que vos quero contar começou no século XIX, na Alemanha, pela altura do Natal. Falo (como já sabiam depois de ler o título!) do famoso  – e muito desejado por miúdos e graúdos quando se aproxima o mês do Natal – Calendário do Advento.

O Calendário do Advento é uma das memórias que muitos de nós guardamos dos tempos de criança. Aqueles 24 dias antes do Natal eram sempre bem docinhos, com passe-livre para um chocolate que ajudava na contagem decrescente. Mas quem diria que esta tradição já é bem antiguinha?

Tudo começou com Martinho Lutero, figura central na Reforma Protestante, que rejeitava a veneração de santos. Por isso, mudou a tradição e, os presentes que até ao século XVI eram abertos no dia de São Nicolau (6 de dezembro) passaram a sê-lo no dia de Natal. Para “compensar” esse tempo de espera, os Luteranos desenvolveram vários costumes e tradições, o Adventskalender (Calendário do Advento) para aguardar o dia em que abririam os presentes.

 

O aparecimento do Adventskalender

Antes do chocolate ser o rei da contagem decrescente para o Natal, a tradição apresentava outras formas. Na altura, as famílias mais pobres faziam 24 marcas com giz numa porta que iam sendo apagadas, uma por dia, pelas crianças. Havia também quem acendesse uma vela por dia, arrancasse tiras de papel ou colocasse pedaços de palha na manjedoura. Nas famílias mais ricas, a contagem decrescente era celebrada com biscoitos de gengibre para as crianças.

A tradição foi-se criando e as velas passaram a ser colocadas numa estrutura, que ganharia nome de “Relógio do Advento”. Apesar de ser uma prática familiar em algumas regiões de língua germânica da Europa desde o século XVII, em dezembro de 1839 foi pendurada a primeira coroa do Advento, na capela da Rauhes Haus (um orfanato em Hamburgo).

As famílias católicas acabaram por adotar o Adventskalender e a tradição espalhou-se por toda a Alemanha.

 

A primeira versão impressa do Calendário do Advento

Tal como outros acontecimentos da história da humanidade, existem algumas dúvidas em relação à primeira impressão de um Calendário do Advento. No entanto, há dados que apontam para 1851.

Uns anos mais tarde, entre 1902 e 1903, de acordo com o Austrian Landesmuseum, foi impresso o primeiro calendário em forma de relógio, numa livraria da Igreja Protestante, em Hamburgo. No entanto, outros registos dizem que o pai do Calendário do Advento moderno foi o pároco Gerhard Lang, em 1908. Na época, era tipógrafo na Reichhold & Lang Munique, que começou a vender pequenas imagens coloridas para serem recortadas e coladas em 24 espaços de uma caixa de papelão. Uns anos antes, o sonho pelos presentes no dia 25 de dezembro já se espalhava e foi em 1904 que o jornal “Stuttgarter Neuen Tagblatt” publicou um calendário de Natal como suplemento da sua edição.

 

Finalmente, o chocolate associa-se à contagem decrescente!

A reinvenção continuou ao longo dos anos, mas foi em 1920 que apareceram os primeiros Calendários do Advento com pequenas janelas para abrir. Por trás destas janelas encontravam-se imagens e versículos da Bíblia. Quando se instaurou o regime nazi, os símbolos cristãos foram substituídos por personagens de contos de fadas ou divindades germânicas.

A partir da década de 50, começou-se a produzir em massa, o que significa que o Calendário se tornou mais acessível às famílias mais pobres. Atrás de cada janelinha existiam imagens de cidades com neve, paisagens ou motivos cristãos. Foi nesta época que o Calendário do Advento começou a esconder chocolates e outros doces.

Durante a Segunda Guerra Mundial, aparentemente para economizar papel, a sua produção reduziu drasticamente. Mas logo após a guerra, o calendário mais popular do mundo foi relançado por outras empresas, entre elas a Richard Sellmer de Stuttgart, que voltou a torná-lo popular.

 

A tradição dos dias de hoje

Atualmente, há Calendários do Advento para todos os gostos – todos os anos são reinventados por diversas marcas, com perfumes, vinho ou até peças de roupa. No entanto, na minha opinião (um pouco suspeita, talvez), não há inovação que bata uma contagem decrescente de chocolate! 🙂

Em algumas cidades alemãs, a tradição é tão forte que os Adventskalender têm tamanhos gigantes. Há até prédios e casas cujas janelas representam as janelas do próprio calendário, abrindo-se nos respetivos dias. A prefeitura de Gengenbach – em Baden Württemberg, estado do sudeste alemão – é um excelente exemplo disso.

O maior e mais famoso Adventskalender situa-se no centro de Leipzig e ocupa uma área de 857 metros quadrados, quase um campo de futebol. Todos os dias durante o Advento, às 16h00, do dia 1 ao dia 24 de dezembro, abre-se uma janela, onde aparecem motivos de Natal.

Curioso, não é? Realmente há tradições que merecem ser conhecidas. Não admira que a Alemanha, com os seus Mercados de Natal e Calendários do Advento, seja um destino muito concorrido nesta altura do ano!

 

Até à próxima novidade,

Raquel